Foram
só nove dias na casa mais vigiada do Brasil, mas quem não se lembra da
passagem de Marielza Souza, 54 anos, na quinta edição do “Big Brother
Brasil”, em 2005? Chamada por sorteio, a então babá se deslumbrou com a
novidade, o glamour da mansão e quando começou a desfrutar das mordomias
de um brother, o destino lhe pregou uma peça que a tirou do jogo e da
disputa pelo prêmio de R$ 1 milhão: Marielza sofreu um AVC (Acidente
Vascular Cerebral) em plena banheira de hidromassagem e perdeu a chance
de mudar a sua vida.
“Estava
escrito. Seria até injusto de dizer que não ganhei nada porque recebi
toda assistência médica. Foi um gasto que eu não tinha condições de
pagar. Lógico que eu queria o prêmio sonhava com a grana que mudaria
completamente a minha vida”, diz, hoje, a caixa de supermercado que leva
uma vida bem simples no Jardim Primavera, bairro isolado do município
de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Uma
vida que nunca foi muito fácil para Marielza, caçula de uma família de
nove filhos que veio de Itabuna, interior da Bahia, direto para o
município da Baixada Fluminense. Desde muito cedo, ela precisou
trabalhar. Foi empregada doméstica, cobradora de ônibus, inspetora de
colégio, balconista entre outras profissões que não precisasse de muitos
requisitos. “Sempre tive que conciliar o trabalho com os estudos e por
isso não tinha uma base educacional boa. Há pouco tempo, resolvi fazer o
ensino médio para voltar a estudar, para me reciclar. Sonho agora fazer
uma faculdade de Serviço Social”, confessa.
Marielza
ficou desempregada desde que saiu do programa. “Por incrível que pareça
sofri preconceito. As pessoas achavam que eu poderia passar mal de uma
hora para outra. Vivi de biscates, mas ano passado um amigo conseguiu
uma vaga em uma rede de supermercados. Estou bem lá”, conta ex-BBB, que
leva aproximadamente duas horas e meia para ir e voltar do trabalho em
Botafogo, zona sul do Rio.
Além
do desejo de entrar para uma Universidade, ela tem outro sonho, esse,
em sua opinião, mais complicado de se concretizar: ter uma casa própria.
Marielza vive de favor em um imóvel de cinco cômodos que na verdade
pertence à família do ex-marido. O medo de ser despejada a qualquer
momento não é maior do que ver a residência, literalmente, no chão, já
que o imóvel é tomado por infiltrações e rachaduras. “A cada chuva
forte, a cada temporal, a casa vai ficando em situação pior. Tenho muito
medo.”
Mãe
de Carolina, 26, e Vitor, 22, ela diz que não sabe o que seria da vida
se os dois não ajudassem nas despesas. “O grosso mesmo das compras e das
contas da casa ficam por conta deles. Ganho muito pouco, mas dá para
ajudar na feira. Queria ganhar mais para começar a fazer uma poupança e
comprar um terreno. Aos poucos, eu ia construindo o meu cantinho”,
revela uma Marielza bem articulada e realista, que já até mandou uma
carta para o quadro “Lar Doce Lar”, do Caldeirão do Huck. “Via ele
reformando as casas, construindo outras de pessoas tão necessitadas como
eu e aí ficava imaginando que poderia acontecer comigo também. Desisti
com o tempo porque mandei há quatro anos um vídeo em forma de carta e
até hoje não recebi nenhum retorno. Quando não consigo alguma coisa, eu
procuro tirá-la da cabeça para não sofrer. Desde pequena sou um pouco
depressiva, fico logo de baixo astral”, admite ela com um sorriso
tímido.
Apesar
de gostar de uma conversa, Marielza esconde certa timidez,
principalmente quando alguém se aproxima e a identifica como uma ex-BBB.
“Morro de vergonha. Às vezes, eu nego e até me arrependo, porque a
pessoa vem certa de que eu sou aquela que saiu porque passou mal. Minha
saída marcou, né?”, pergunta já sabendo a resposta.
Tanto
a saída, quanto a curta participação no reality show fazem parte de um
passado que Marielza bem que gostaria de deixar lá atrás, mas não
consegue. Passam como se fossem um filme. A primeira ligação para a
produção do BBB que não completou, uma segunda tentativa, com a certeza
de que algo na sua vida iria mudar, e a entrada na casa. “Foi tudo muito
rápido, tudo ao mesmo tempo tipo surpresa, deslumbramento, medo e
insegurança. Na época, o médico disse que essa mistura de sentimentos
pode ter sido a principal causa do meu AVC, mas eu já sofria problemas
de pressão”, explica Marielza que foi a BBB mais velha daquela edição:
47 anos.
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